Linha Opções alerta para as mulheres fragilizadas que querem abortar fora do SNS - 09 Julho 2007

17-03-2012 19:23

    A coordenadora da Linha Opções da Associação para o Planeamento Familiar acredita que a nova lei de interrupção voluntária da gravidez "reduzirá drasticamente o aborto clandestino", mas alertou para a existência de "mulheres fragilizadas" que querem abortar fora do Serviço Nacional de Saúde.

 

    A seis dias da entrada em vigor da regulamentação da nova lei que permite abortos até às 10 semanas a pedido da mulher, a psicóloga Elisabete Souto acredita que "haverá sempre aborto clandestino, mas sem os números gritantes que existem actualmente".

    Referiu ainda que muitas das clínicas que faziam interrupções à margem da lei estão a pedir licenciamento.

    No caso da linha Opções, 80 por cento dos pedidos de apoio para IVG dizem respeito a casos dentro do enquadramento legal. Nas outras situações, as operadoras dão informações quanto aos riscos legais ou de saúde que as mulheres correm.

    Em declarações à Agência Lusa, Elisabete Souto afirmou a existência de muitas mulheres "fragilizadas" que não querem divulgar a sua gravidez por esta resultar de uma situação de sexo ocasional ou por razões de ordem profissional e instabilidade emocional.

    "Por isso querem resolver o mais rapidamente possível a situação" e até evitam uma ida ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), adiantou a psicóloga, referindo que nestes casos aconselha-se que a mulher clarifique a sua decisão.

    Se ainda assim pretender abortar, a linha aconselha o envolvimento do médico assistente.

    Até à entrada em vigor da nova lei do aborto, este aconselhamento telefónico também indicava locais em Espanha para proceder a IVG em "condições de segurança e sem comprometer a fertilidade".

    Também é desaconselhada que a mulher actue sozinha, nomeadamente, com uma toma de medicamentos que provoquem o aborto.

    A linha telefónica Opções também tem servido de "feedback" quer para os bons acolhimentos, quer para más experiências, como foi o caso recente de uma mulher que num hospital da Grande Lisboa lhe viu negada a informação quanto ao número de semanas de gravidez.

    "Digo apenas que tem um ser vivo dentro de si`, disse essa médica", relatou a coordenadora da linha, sublinhando que estes "juízos de valor e atitudes pouco profissionais não podem acontecer".

    Esses comentários são vistos também como razões para as mulheres procurarem soluções fora do SNS e pagarem uma IVG em clínicas privadas.

    Da sua experiência, a psicóloga referiu à Lusa que a percepção sobre o aborto varia consoante as vivências.

    "Quando se trata da própria pessoa, as regras são diferentes e temos mulheres a assumir que são contra o aborto, não são levianas e que apenas falharam na contracepção e que por isso querem recorrer a uma IVG", testemunhou.

    Segundo a responsável, a nova lei também "será uma oportunidade para agarrar as mulheres que não faziam contracepção ou faziam-na mal".

    Elisabete Souto admitiu ainda que os valores do aborto vão disparar em Portugal a partir de segunda-feira, mas considerou que será um caso transitório também por ser "novidade" no país.

    Segundo a coordenadora, a linha Opções, em funcionamento há seis meses, apoia as decisões informadas das mulheres grávidas e presta informações sobre métodos contraceptivos.

    "É um espaço para a mulher grávida verbalizar o que sente e que hipóteses tem", sintetizou.

    A linha recebeu 400 chamadas, numa média de 60 a 70 ligações mensais.

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